Raquel Delvaje

segunda-feira, 21 de maio de 2012

MISTÉRIO II


             O MISTERIOSO CASO DOS HOMENS DE PRETO

      





                 Esse caso aconteceu em Santo Amaro, aliás, bairro em que nasci.  Uma jovem senhora, quando ainda moça, ao sair do serviço tarde da noite, estava no ponto de ônibus. A garoa fazia contraste com a noite fria. Não havia mais ninguém no local. A noite era lúgubre. Enrolou-se no casaco fino e ficou ali aguardando a condução. Carros passavam a todo o momento, quando de repente um parou à sua frente e abriu-se a porta. Um homem vestido  elegantemente de preto desceu do automóvel. Ele estava sentado atrás e na frente tinha outro homem, também de preto, que pareceu ser o motorista. Ofereceu-lhe carona, ela não aceitou, mais por educação que por medo. Ele polidamente disse a ela que tinha ordens para levá-la e que não poderia deixar de cumprir. Ela questionou a interesse de quem. Mas ele não respondeu e disse somente que ela entrasse. Geni, sem entender, pois seria resoluta a não entrar, obedeceu como se estivesse em um estado de hipnose. Desse momento em diante nada mais se lembra, foi encontrada uma semana depois vagando pela Avenida Paulista. Estava com a mesma roupa do dia em que sumira. Um policial a encontrou devido às inúmeras vezes em que viu os cartazes espalhados pelas delegacias, que seus familiares fizeram. Ela não conseguia explicar o que houve, não tinha sinais de violência e nem estava desnutrida ou com sede. Desse dia em diante foi ouvida por vários psicólogos, mas nunca chegaram a uma resposta do fato. A moça foi submetida a vários exames e teve como conclusão de um colapso nervoso que levara ao estado amnésico.
                  Aquela imagem última que ficou antes do esquecimento, nunca lhe saiu da cabeça. O homem de estatura alta, magro, elegante, todo vestido de preto e com chapéu, tudo em perfeito alinhamento. O automóvel também preto, ela não sabia a marca, pois não entendia muito de carros, sabia dizer somente que era um conversível dos mais caros. Ela remoia aquela imagem em sua mente, mas não conseguia chegar a nenhuma conclusão. Era tudo muito misterioso. Porém, esqueceu o fato. Os anos passaram e surgiram outras preocupações. Foi morar sozinha após o falecimento de seus pais, numa ampla casa em Santo Amaro, com um belo quintal com árvores frutíferas ao fundo e à frente um belíssimo pé de abacate.
                    Geni acabara de completar 35 anos e estava irradiante, namorado novo, várias amigas, se sentindo muito feliz. Ao chegar à casa prendeu seu dedo no portão e sentiu muita dor. No dia seguinte a dor era intensa e resolveu tirar um raio x para ver se havia quebrado algum osso. Após o atendimento, o médico mandou lhe chamar, perguntou se ela quando criança havia enfiado algum objeto estranho em seu dedo, pois tinha algo que ele não conseguia identificar, não sabia como poderia estar aquilo alojado ali, não era pontiagudo para entrar com um estrepe, mas enfim, pediu que a mulher fosse a um especialista e levasse aquele raio x. O dedo não estava quebrado, a dor provavelmente vinha daquele objeto que com a batida se deslocou.
                       Decidida que iria no dia seguinte a um especialista, ela dirigiu-se à sua casa , não daria mais tempo de voltar ao trabalho. Estando na cozinha fazendo um lanche, a campainha tocou. Surpresa ao abrir a  porta e se deparar com o mesmo homem de preto. Com a mesma fisionomia que lhe ficara gravada na mente. Percebeu que o tempo não havia passado para ele. Sem tempo de reagir, o homem de preto empurrou a porta e entrou. Disse que veio fazer uma rápida visita e buscar algo que esqueceu. Ela queria perguntar muitas coisas, mas não conseguiu, talvez pelo susto ou pela surpresa. O homem convidou-a a ir até a cozinha, ela sem saber como, obedeceu-lhe, deu sua  mão e ele que a colocou sobre a pedra fria da pia, e com a faca cortou-lhe o dedo machucado.   Geni viu o sangue escorrer e gritou de dor, estava aterrorizada. O elegante moço segurou o dedo e enrolou-o em um alvíssimo guardanapo que logo se fez rubro. A mulher caiu no chão desesperada e ele segurou-a delicadamente e fez lhe um curativo. Seu olhar era estranho, não tinha a parte branca dos olhos, mas ela não temeu em olhá-lo tão profundamente, dessa vez queria saber quem era ele e não aceitaria de novo sofrer amnésia. Ao terminar o curativo ele disse para ela não contar a ninguém o que ocorrera,  pois voltaria e dessa vez não seria somente o dedo que ia arrancar. Levou consigo o membro mutilado e as chapas de raio x. Em choque ela  o viu sair pela porta.  No dia seguinte contava aos amigos que acidentalmente enfiara o dedo na máquina de lavar.
                        

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