Raquel Delvaje

segunda-feira, 21 de maio de 2012

MISTÉRIO




O GATO SINISTRO

                  Esse caso aconteceu num tradicional bairro de São Paulo. Moradora da Mooca, Maricota muito apaixonada por gatos, já tivera meia dúzia, no momento só estava com Rina, uma bela espécie sem raça definida. Enorme e gordo, o felino vivia fazendo as honras da casa.  A mulher, muito amável, o tratava como um bebê. Leitinho no pires era seu privilégio. Gostava dos afagos da dona. Ela só não compreendia o motivo de após Rina chegar à sua casa, nunca mais conseguir ter outros gatos.  A bondosa senhora sempre os teve pra mais de cinco. Mas achava natural que um ou outro gatinho acabasse por fugir.
                  A dona da casa, descendente de italianos, era muito caseira, seus filhos casados há pouco tempo, já não moravam mais com ela, mas  vinham em visitas regulares. A doce mulher acostumada com a casa cheia ficara viúva e pela primeira vez se via morando sozinha naquele casarão. Precisou arrumar uma empregada, contratou Solange que se afeiçoou de imediato. A empregada gostava muito do felino, quando ela chegava, logo ele vinha pedir carícias. Um dia Solange caiu doente e não pode mais trabalhar. Maricota colocou anúncio no jornal e contratou Melina. Esta por sua vez, já chegou anunciando que não gostava de gatos. Mas aceitou o serviço mesmo assim. Nos primeiros dias ficou indiferente ao gato, mas bastou pegar confiança com a dona da casa e começou a judiar do pobre bichinho. Deixando-o sem leite e muitas vezes o enxotava com a vassoura. Certo dia bateu com o rodo nas costas do imenso bichano, que miou de dor.  Diante da patroa ela sempre fingia afeto e longe fazia mil e umas travessuras com Rina. O coitadinho ao ver a moça saia que nem foguete.
                  Dona Maricota precisou ser internada às pressas, pois teve um início de pneumonia. Seus filhos pediram para que Melina cuidasse da casa e do bichano, deixando uma chave com ela. Ao chegar cedo à casa e ao abri-la a empregada deparou com o gato encarando –a. Logo expulsou-o e ele nem se moveu. Ela passou por ele e ao chegar à porta do quarto viu o felino novamente, com os olhos fixos nela; estranhou, pois o havia deixado para trás. Quando olhou para a porta do banheiro viu ele novamente, e outro e outro. Assustou-se terrivelmente, todos a encaravam com um olhar de ódio. Ao afastar-se tropeçou no rodo e caiu, os cinco gatos vieram para  cima dela e a destrincharam inteira. Quanto mais ela gritava mais era rasgada sua carne.
                   Dois dias depois ao voltar para o lar, a doce senhora encontrou a porta aberta e não viu ninguém. Seus filhos estranharam a ausência da empregada. Algumas horas depois chegou o marido de Melina, preocupado dizendo que a mulher sumiu. Foram feitos boletins de ocorrência, buscas por casas de amigos, e nada de a encontrarem.
                   Até hoje ninguém sabe do paradeiro da empregada. Rina está lá esperando uma nova empregada que não goste dele.  E também de algum  gatinho intruso.
Raquel Delvaje

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