Raquel Delvaje

sábado, 26 de maio de 2012

MISTÉRIO III - O MISTERIOSO CASO DO HOMEM DO SERTÃO

                         




                                               Esse caso se passou no Nordeste de nosso queridíssimo Brasil. Vou ocultar o nome da cidade, por via de cautela. Região quente, que no verão ao sol do meio dia chega a cinquenta graus centígrados. Povo sofrido com a seca. Acostumados a comer farinha por falta de outro alimento. Seu Francisco, homem matuto, trilhava o campo já seco pela estiagem, todos os dias pela manhã para cultivar um pequeno roçado perto do rio, voltando ao final da tarde. Em sua rotina diária o homem da roça parava para almoçar sua fria marmita e descansar embaixo de uma árvore seca, que fazia uma pequena sombra, onde ele se ajeitava para um cochilo esperando o sol baixar. E era exatamente ao meio dia, quando o sol se fazia  pino, surgia ao longe um homem alto, elegantemente vestido que passava serenamente e fazia um leve cumprimento ao matuto. Isso se repetia há anos. O homem sumia no horizonte. Ele via essa cena desde menino, seu pai o ensinara a não dirigir a palavra àquela pessoa que mesmo ao sol do meio dia não demonstrava nenhuma fadiga ou suor. Ele simplesmente acostumara com o fato Às vezes ficava se perguntando o que significava aquilo, outras vezes simplesmente aceitava. De vez em quando saia um comentário sobre o misterioso homem elegante, muitos o via, mas sempre por aquelas bandas do cerrado. Seu Francisco, homem cauteloso procurava pouco falar sobre esse assunto.
                               Um dia apareceu  um repórter. Muito curioso e perguntador, fazia todos os tipos de questionamentos. O pobre homem roceiro pelejava para nada falar, mas ladino como ele só, o moço da cidade sempre conseguia arrancar alguma informação e quando pressionava Seu Francisco, ele dizia:
                              _ “Ói home, nói aqui num fala nada não, só vévi”. E com essa frase sempre conseguia encerrar o assunto.
                                 Mas com muita peleja e jeitinho, Alfredo conseguiu acompanhar o velho homem da roça à sua labuta. Ao meio dia , como se era de costume, apareceu o individuo que os cumprimentou e o repórter correu ao seu encalço. O matuto só observou de longe que ambos conversavam e ele resolveu seguir seu rumo ao roçado. Nada mais soube do que se passou, somente que o rapaz da cidade foi-se embora logo em seguida.
                                  Dez anos depois, o repórter voltou ao sertão  e Seu Francisco ofereceu a ele rede e um prato de feijão de corda, farinha e carne seca. Contou que muitas coisas melhoraram desde que ele se foi, não houve mais seca como aquela. Alfredo trazia nos olhos certa tristeza, disse que se casou com a mulher que amava e fizera fortuna. Há um ano sua esposa faleceu e perdeu todo o dinheiro em jogatinas, viera, pois queria conversar com o homem. O matuto não gostou muito da conversa, ficou ressabiado. No dia seguinte ele acompanhou o homem do sertão e como sempre ao meio dia estavam embaixo da árvore quando surgiu o sujeito. O repórter foi ao seu encontro e conversaram. Depois voltou e perguntou a Seu Francisco se poderia ir à casa dele, precisava descansar. Ao chegar à tapera a esposa do matuto o recebeu e vendo que não estava bem mandou-o deitar-se no quarto e ele fechou a porta e ficou na penumbra.
                                  Quando o esposo de Dona Esperança chegou, ela contou que o moço não estava passando bem, por fim ele ficou por ali arrumando uma cerca quando viu chegar o misterioso homem que anunciou que visitaria o enfermo. Entrou pela sala e adentrou-se ao quarto. Dona Esperança e Seu Francisco ficaram por ali às voltas com seus filhos moços e moças. Após um quarto de horas perceberam o silencio e estranharam. Passado meia hora a mulher enfezada com a invasão de seu lar resolveu olhar pela fresta da porta e percebeu o quarto escuro, com muita fumaça e um forte cheiro de enxofre. Supôs que estavam fumando  e  resolveu esperar mais um pouco, após uma hora achou que estava muito estranho e resolveu entrar no quarto, anunciou sua entrada mas não houve resposta. Empurrou a porta e para sua surpresa não havia ninguém lá dentro. Procuraram pela casa e pelo terreiro, mas nada de encontrar os dois. Sabiam que era pouco provável de terem passado pela janela, pois estiveram o tempo todo na soleira da porta, que ficava justamente paralela à janela. Por muito tempo ninguém daquela casa falou sobre o assunto, tamanho foi o medo. Seu Francisco abandonou o roçado e veio plantar mais próximo de sua casa. Nunca mais esteve embaixo daquela árvore. E quando alguém toca no assunto ele tem a resposta na ponta da língua:
                               -“ Ói moço, aqui nói num fala nada não, só vévi”







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