Raquel Delvaje

domingo, 15 de julho de 2012

MISTÉRIO XIX- O SINISTRO CASO DA IRMÃ DE LÚCIA.





                                    No centro de Limeira, cidade do interior de São Paulo, morava uma mulher muito solitária. Ela não queria mais  contato com as pessoas desde que havia sofrido um derrame e arrastava uma das pernas. Sentia-se envergonhada e preferia estar sempre recolhida em seu apartamento. Contava com a ajuda de uma irmã que  a amparava nos seus afazeres e ia para ela aos supermercados, bancos e lojas. O único dia que Lazinha  saia de casa era quando ia  ao médico, mas voltava rapidamente. Lúcia vivia pedindo a ela para fazer um passeio, ir a uma loja, fazer compras, sair um pouco. Queria muito que a reclusa irmã deixasse de se envergonhar pela situação que se encontrava, que nem era tão ruim assim, com certeza havia pessoas muito piores do que ela, mas o orgulho não lhe permitia ser diferente.
                                     Lazinha já havia se acostumado com sua vida daquela forma e nem gostava que Lúcia insistisse com ela para sair de casa. Porém a dedicada irmã sempre se desdobrava para atender aos caprichos da outra. Os anos se passavam e a mulher ia ficando cada vez pior em suas exigências. Já não queria ficar sozinha e exigiu que a bondosa companheira lhe servisse dia e noite, passando a morar com ela e se fechando também naquela vida pacata e encarcerada. Saindo somente para as necessidades domésticas, mas depois voltando e ficando ali num tedioso ir e vir de dias compridos e noites infinitas. As conversas uma com a outra era o que distraia. Um programa de televisão, uma novela, um livro era o que ajudava os dias serem menos ruins. Mas a pobre da Lúcia não podia nem receber uma visita, pois a irmã a proibira.
                                     Passaram-se uns dez anos e um dia a Lazinha amanheceu morta. Lúcia chorou  o falecimento de sua irmã e companheira, mas não demorou uma semana para ela sentir o alívio daquela morte e se sentir livre para seguir sua vida, rever as velhas amizades, passear e se divertir. Um mês depois, estando sozinha em seu apartamento e muito feliz com a nova vida que estava levando, a irmã de Lazinha preparou uma pipoca e foi assistir a um filme quando ouviu a descarga do quarto. Estranhou, estava sozinha. Foi até o banheiro e não viu nada, pensou que poderia ser a televisão. Voltou a assistir ao filme e cochilou no sofá, acordou com um barulho de uma caixa caindo no quarto. Assustou-se, achou que era ladrão e ficou apreensiva, foi até o corredor e observou tudo com precaução, depois viu que não havia nada ali. A caixa estava caída no chão e ela pegou-a e ajeitou numa cadeira próxima e resolveu dormir. Na madrugada, acordou com passos no corredor, assombrada, levantou e trancou a porta do quarto e ficou lá quieta, até que adormeceu. No dia seguinte, observou que o apartamento estava em perfeito estado, concluiu que era sua imaginação. Após uns dias, voltaram a acontecer fatos estranhos no apartamento. Eram barulhos, passos, descargas, televisão que ligava e desligava. Abismada, Lúcia decidiu vender o apartamento e sair dali. Quando colocou o imóvel à venda, naquela noite, teve uma surpresa. Ao entrar em seu quarto viu sua irmã, mulher magra e de cabelos loiros, sentada na cama, com as mãos cobrindo o rosto e chorando muito. Lúcia, mesmo apavorada com o que via, decidiu perguntar para a irmã porque chorava tanto e ela respondeu que nunca se conformara por Lúcia ser mais bonita e sempre ter tido mais sorte e que a odiava por isso. A irmã bondosa disse que nunca havia percebido tanto ódio e inveja e Lazinha disse que não tinha paz, era um tormento ver que ela  se divertia e estava tão bem, ela jamais poderia ter morrido primeiro e que agora iria levá-la. Quando ergueu a cabeça tinha um olhar feio, cheio de olheiras, seus dentes estavam apodrecidos e sua  pele amarela e pegajosa. Lúcia assustou-se e correu para a porta e a falecida veio para cima dela com garras e dentes , a mulher abriu a porta e correu pelas escadas do prédio, tropeçou e caiu, ferindo-se.
                                       No dia seguinte acordou no hospital, havia sido salva pelo porteiro que a viu pela câmera quando saiu correndo. Ele não viu Lazinha,mas viu uma nuvem preta que saiu pela porta do apartamento em direção à Lúcia. Achou que fosse algum início de incêndio.




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