Raquel Delvaje

domingo, 15 de julho de 2012

MISTÉRIO XX - O SINISTRO CASO DA NOIVA VELHA.


                                  

                                      No Rio Grande do Sul, no século XIX, morava numa pequena cidade uma senhora muito velha que gostava de namorar, mas queria somente moço. Ela se fazia valer pela grande fortuna que possuía. Conheceu Gustavo e ficou interessada por ele, que nem deu bola até saber da riqueza da mulher. O rapaz sonhava em se dar bem na vida. Não gostava de trabalhar e sempre apreciava os bons cortes de roupas, os melhores chapéus e sapatos. Conhecia os alfaiates da moda e sempre estava devendo e era perseguido pelos cobradores que viviam à sua porta. Quando tomou conhecimento que a  velha senhora tinha muito dinheiro, fez mil planos. Poderia desfrutar de uma vida confortável ao lado dela e resolveria seus problemas financeiros. Correspondeu às investidas de Madalena, a assanhada velhinha. Mas disse que gostaria de se casar. Essa por sua vez não era nada boba e sabia que o interesse daquele jovem rapaz era somente por sua fortuna, mas não se importou.
                                       Após o casamento, já na fazenda, o rapaz propôs a Madalena que dormisse no telhado aquela noite e que na seguinte ela viveria a maior aventura de amor que ela jamais sonhou. Tentada àquela proposta ela subiu ao telhado e ficou lá  por toda a madrugada. Estava muito frio e ela vestia somente uma camisolinha fina  e tremia muito. E dizia:
                                      - Treme, treme corpo velho, hoje é sua penitência amanhã é sua recompensa.
                                       E Gustavo no quentinho, se ajeitava embaixo dos cobertores. Conforme a noite ia gelando, mais ele ouvia a mulher dizer:
                                       - Treme, treme corpo velho, hoje é sua penitência amanhã é sua recompensa.
                                       E para se sentir mais fortalecida a velha continuava a repetir:
                                       - Treme, treme corpo velho, hoje é sua penitência amanhã é sua recompensa.
                                       O homem ouvia e sorria, pois sabia que com aquele frio a mulher não resistiria por muito tempo e logo iria partir dessa para melhor e o dinheiro seria herdado por ele. A velha tinha suas juntas endurecidas pelo frio e ela continuava a dizer com a voz trêmula:
                                       - Treme, treme corpo velho, hoje é sua penitência amanhã é sua recompensa.
                                        De repente se fez um silêncio e só se ouvia o barulho do vento que zunia e o quarto ficou mais gelado. Gustavo imaginou o frio que deveria estar lá fora e deduziu que nessa hora não haveria mais esposa viva.
                                        No dia seguinte, ao amanhecer, ele foi ao telhado e encontrou a velha morta e dura. Desceu-a  e comunicou o infortúnio  aos parentes e amigos que lamentaram muito sua morte que foi constatada ser natural.
                                        Gustavo agora era um homem rico e feliz. Todo o dinheiro da falecida  ele herdara, pois ela não tinha filhos. Ele ficou morando na fazenda e desfrutando de uma confortável vida, longe da miséria que sempre conhecera.  Passado alguns dias, numa madrugada, embriagado pelo sono e por uma garrafa de vinho que bebera, o homem começou a ouvir um gemido. Ficou atento para perceber melhor o barulho. Escutou os grilos e os sapos. Depois de um tempo ele ouviu novamente o gemido, dessa vez ele não se importou e virou na cama ajeitando-se para uma tranquila noite de sono, quando começou a ouvir o gemido novamente. Levantou a cabeça e prestou atenção. Ouviu uma voz ao longe que dizia:
                                        - Treme, treme corpo velho. Ontem foi sua penitência, hoje é sua alegria.
                                         Logo Gustavo achou que fosse uma brincadeira de algum escravo espertinho. Resolveu não se importar. E a voz continuou:
                                              - Treme, treme corpo velho. Ontem foi sua penitência, hoje é sua alegria.
                                         E a voz ficou mais próxima:
                                         - Treme, treme corpo velho. Ontem foi sua penitência, hoje é sua alegria.
                                         Irritado com aquela brincadeira, o moço abre a janela e não vê nada. A noite estava terrivelmente escura. Era lua minguante e ventava muito. De repente tudo ficou muito silencioso, não se ouviu nem grilos, nem sapos. Somente o zunido do vento. Gustavo fechou a janela e deitou-se cobrindo a cabeça. Ouviu novamente o gemido, só que dessa vez parecia estar no quarto. Ficou sem se mover, um frio lhe passou pelas costas e ele puxou o cobertor, um sussurro gelado ele sentiu em seu ouvido:
                                        - Treme, treme corpo velho. Ontem foi sua penitência, hoje é sua alegria.
                                         Ao virar a cabeça, deparou-se com a velha lhe sorrindo com os olhos vermelhos e a pele derretendo, estava suja de terra da cova e seus cabelos desgrenhados traziam uma mucosa nojenta e suas unhas pretas crescidas contrastavam com a   pele branca e gelada que lhe encostava solicitando o carinho tão prometido.





                                      

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